Que o amigo seja para vós a festa da terra

20 março 2007

A mão deve estar vazia
























Peixe e pedras
Bada Shanren
[八大山人]* (homem
montanha das oito grandezas), 1699.
Tinta sobre papel, 134,6 x 60,6 cm.
Metropolitan Museum of Art, Nova Yorque.

* Zhu Da [
朱耷]

"Certa pintura chinesa de paisagem pede velocidade, só pode ser executada com o mesmo relaxamento da pata do tigre quando salta. [Para isso é preciso ter estado contido, concentrado, porém sem tensão. (*)] Do mesmo modo o caligrafo deve primeiro recolher-se, carregar-se de energia para dela se libertar depois, para dela se descarregar. De uma só vez. (**) (...) A mão deve estar vazia (1) a fim de não pôr obstáculos ao influxo que lhe é comunicado, deve estar pronta para o mais pequeno impulso, assim como para o mais violento. Suporte de eflúvios, de influxos." (2)

(*) "A meditação, o recolhimento diante da paisagem pode durar vinte horas e a pintura algumas dezenas de minutos. Pintura que deixa lugar ao espaço."
(**) "A calma do tigre quando salta, mesmo em religião. No Tch’an, no Zen, o mais impressionante é a instantaneidade da iluminação."
(1) De que vazio se trata? Trata-se não do vazio mas do "lugar deixado vazio" pelo autor e de – como adianta Michel Foucault no famoso texto – se descobrir o que esse deixa a descoberto (tarefa para a qual – para quem se aventure – a máxima atenção e cautela são nada, visto que: physis dè xath'Herákleiton kryptesthai philei).
(2) Henri Michaux, Ideogramas na China [Idéogrammes en Chine (Gallimard, Paris, 1986)], tradução de Ernesto Sampaio (Edições Cotovia, Lisboa, 1999), págs. 28-29.

Henri Michaux sob citação no Grammateion

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