Que o amigo seja para vós a festa da terra

19 maio 2008

Cubano

01 maio 2008

Imagem mental






The Nativity Story

Catherine Hardwicke 2006

Na origem do simulacro está a imagem mental. Esse ser caprichoso e impalpável reflecte o mundo e, ao mesmo tempo, sujeita-o à fúria combinatória, usando-lhe as formas numa proliferação interminável. Gera uma força prodigiosa, o terror perante aquilo que se vê no invisível. Tem todas as características do arbitrário e do que nasce nas trevas, do indistinto, como outrora talvez tenha nascido o mundo. Mas, desta vez, o caos é a vasta tela tenebrosa atrás dos nossos olhos, sob a qual se desenha a dissipação fosfénica. Aquela formação das imagens repete-se a cada instante, em cada indivíduo. Mas a sua particularidade não reside apenas nisso. Quando o simulacro se apodera da mente, quando começa a agregar-se a outras figuras afins ou opostas, a pouco e pouco ocupa o espaço da mente numa concatenação cada vez mais minuciosa. Aquilo que se tinha apresentado como a própria maravilha da aparição, desligada de tudo, associa-se agora, de simulacro em simulacro, a tudo.
Numa extremidade da imagem mental existe a estupefacção pela forma, pela sua existência auto-suficiente e soberana. Na outra extremidade, existe a estupefacção perante a cadeia dos laços que reproduzem na mente a fatalidade da matéria. É difícil ver esses dois extremos que sobressaem no leque do simulacro, e é insuportável vê-los simultaneamente. Para os gregos, a figura dessa visão foi Helena, a beleza encerrada no ovo da fatalidade.

Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Lisboa, Cotovia, 1990.

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