Que o amigo seja para vós a festa da terra

28 fevereiro 2007

O que jaz além?



















Páscoa (pesakh*) 2006



















*passagem

Ensinamento

"Basta-me um leitor para justificar toda a minha obra."

Fiama Hasse Pais Brandão


Há pouco mais de uma década cuidava das flores na companhia do seu gato quando lhe irrompi pela casa adentro. Nunca a tinha lido e desconhecia a sua antiguidade reclamada. Fui apresentada à Fiama de todos os dias, uma pessoa perturbadoramente encantadora que em tudo imprimia a delicadeza da sua graça. Na escrevaninha negra entre as portadas para o jardim, e algumas folhas escritas, recebi as suas palavras maduras, sempre disponíveis a ler-me. Eram as coisas todas em si mesma com o dom do mergulhar. Penso nela e abre-se o como se escutam os murmúrios profundos da contemplação. O seu mantra para sempre soará. Basta uma, basta uma relação, uma determinada intensidade no olhar, para justificar toda a existência.

Desde do dia 19 do mês passado deixei de poder agradecer-te pela tamanha influência que tiveste na minha vida e no meu trabalho. Nunca serás esquecida.

26 fevereiro 2007

4 House music


Ola Simonsson
Suécia 2001

24 fevereiro 2007

Do bem viver

Epicuro a Meneceu, saudações.

Mesmo que jovens, não devemos hesitar em filosofar. E nem sequer na velhice devemos cansar-nos do exercício filosófico. Pois para ninguém é demasiado cedo nem demasiado tarde para a purificação da alma. Aquele que diz que a hora de filosofar não cehgou ou já passou, assemelha-se ao que afirma que a hora não chegou, ou já passou, para a felicidade. São, por isso, chamados a filosofar o jovem como o velho. O segundo para que, envelhecendo, permaneça jovem em bens por gratidão para com o passado. E o primeiro para que jovem, seja também um antigo pela ausência de receio em relação ao futuro. Devemo-nos, pois, preocupar com aquilo que cria a felicidade, já que com ela possuimos tudo e sem ela tudo fazemos para a obter.
Põe em prática e medita nestes ensinamentos de que constantemente te falei, tendo consciência que são os elementos do bem viver. (...)



[Início da Carta a Meneceu. De seguida excertos da sua continuação.]



(...) Acostuma-te nesta questão a pensar que para nós a morte nada é, pois todo o bem e todo o mal residem na sensação, e a morte é a erradicação das sensações. (...)

(...) É verdadeiramente em vão que se sofre por esperar qualquer coisa que nos causa perturbação! Assim, o mais temível dos males, a morte, nada tem a ver connosco: quando somos a morte não é, e quando a morte é somos nós que já não existimos! (...)

(...) O sábio, pelo contrário, não teme já não estar vivo: viver não lhe pesa sem que por isso ache que é um mal não viver. Tal como não escolhe nunca a alimentação mais abundante mas a mais agradável, assim como não procura o tempo mais longo da vida mas o mais agradável. (...)

(...) É, além disso, necessário considerar que alguns dos nossos desejos são naturais, outros vãos, e que se alguns dos nossos desejos naturais são necessários, outros são... apenas naturais. (...)

(...) Pois é por isso que tudo fazemos por evitar o sofrimento e a inquietação. Quando um tal estado se realizou em nós [a bem aventurança], toda a tempestade da alma se apazigua, já não tendo o ser vivo de correr como que atrás de qualquer coisa que lhe falta, nem de procurar com que prencher o bem da alma e do corpo. (...)

(...) Eis a razão que nos leva a dizer que o prazer é o princípio e o fim da vida bem aventurada. É ele que reconhecemos como bem primordial nascido com a vida. É nele que encontramos o princípio de toda a escolha e regeição. É para ele que tendemos, julgando todo e qualquer bem de acordo com o efeito que tem na nossa sensibilidade.(...)
(...) Consideramos muitas dores preferíveis aos prazeres desde que um prazer para nós maior deva chegar após longos sofrimentos. Todo o prazer é um bem, pelo facto de ter uma natureza apropriada à nossa, sem por isso dever ser necessariamente colhido. Simetricamente, toda a espécie de dor é um mal, sem que por isso se deva obrigatoriamente fugir de todas as dores. (...)
(...) Reagimos, em certos casos, ao bem como se fosse um mal, ou, inversamente, ao mal como se fosse se de um bem se tratasse. (...)

(...) Os alimentos simples satisfazem tanto como alimentos faustosos, logo que suprimida a dor que resulta da falta: o pão de cevada e a água concedem um prazer extremo desde que, com apetite, os levemos à boca. (...)
(...) Pois nem a bebida, nem os festins contínuos, nem os rapazes ou as mulheres de que se usufrui, nem o deleite dos peixes e de tudo aquilo que pode haver numa mesa faustosa estão na origem de uma vida feliz, mas o raciocínio sóbrio, que procura as causas de toda a escolha e regeição e afasta as opiniões através das quais a maior perturbação se apodera da alma.

O princípio de tudo isto e o maior dos bens é a prudência. É por isso que, a prudência donde provêm todas as outras virtudes, se revela, em última análise, mais preciosa que a filosofia: ensina-nos que não é possível viver com prazer sem prudência, sem honestidade e sem justiça, nem com essas três virtudes viver sem prazer. As virtudes são, com efeito, conaturais com o facto de viver com prazer e viver com prazer é indissociável delas. (...)


Epicuro, Carta Sobre a Felicidade, trad. João Forte, Lisboa, Relógio d'Água, 1994.


"A vida a que chamo agradável não é possível se nela não existir virtude."

Séneca, Da Vida Feliz, trad. João Forte, Lisboa, Relógio d'Água, 1994.

Acolher

20 fevereiro 2007

Lengsel

Através do universo



The Beatles, Across the Universe, 1969. Versão original.

Como nos colocamos?

Adolescência


Maturidade

A do nascimento




"É sempre graças à Natureza que alguém sabe qualquer coisa."

Wittgenstein, Da Certeza, Lisboa, Edições 70, 2000.

19 fevereiro 2007

Dest'águ'azul

Onde está a têmpera
da teia burilada? Sedas
de uma cena assim
na urdidura das velas voltas
não se deixam costear.

E o brilho desta forma
só gasta o que é lido na torcida.
Mecha. Pavio de uma fonte
nenúfar.

As folhas dizem que não
e a'legria das voltas não predura
numa flor.
Diga o bel cor
quantas são as mordeduras.

Dar prestação ao que se é.
Miram sentidos na debanda
dos que não querem ouvir.
Turfas mil
desta contenda.
Surpresa com dita.

Concita.

Não digas que nunca beberás
dest'águ'azul.

O mar enaltece
na tecitura de tanta bula.
E toma-se no aspecto
bucelar. Norma
que deu fruto não dá mais vinha.

No luto há dias contados.
E na vinda desta forma outra
está plena a sagração.
Graça d'vida.

12-12-2006

15 fevereiro 2007

Helios

13 fevereiro 2007

Hubris



















A Torre de Babel
Pieter Brueghel, 1563.
Óleo sobre madeira, 114 x 155.
Kunsthistorisches Museum, Vienna.



A arrogância é o princípio da falência.

2000

Quem percebe d'arte?
























Saturno Devorando a Su Hijo
Fransisco de Goya, 1819 a 1823.
Óleo sobre tela, 146
x 83 cm.
Museo del Prado, Madrid.



Será que os que julgam não saber
existem porque existem críticos?

2000


"O saturno da explicação devora aquilo que adopta."
George Steiner

11 fevereiro 2007

Desenho no desenho de...

















Desenho no desenho de Brueghel
Pedro Paixão (1).
Tinta permanente sobre fotocópia, 29,7
x 42 cm.
Sete desenhos em exposição até ao dia 27 deste mês
na galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea.


(1) Não se trata do escritor de livros destinados ao grande público
.

Across the Universe

























The Beatles, 1969.




Fiona Apple, 1998.

Abraço eterno?
























Terá a curiosidade científica legitimidade para pôr fim a este tão longo abraço com mais de 5000 anos? Profanação spulcral tornada "investigação?" aos olhos da religião atómica. Enfim, esta nova forma de credo sempre fez isto, a par de outras igualmente desrespeitosas. Malditos paradigmas. No entanto, tendo por um lado lamentado profundamente tomar conhecimento do fim da notícia do Público "(...) Os testes a que vão ser sujeitos vão, provavelmente, acabar com este abraço de vários milénios.", tenho, por outro, de reconhecer a sublime inevitabilidade deste acabar. Só uma coisa se mantém: a lei da impermanência. E assim, sob este ponto de vista alargado, o fim do abraço pode também ser o seu início. E que belo abraço...

"Impermanentes são todas as coisas criadas; mantém-te no caminho com atenção."
Siddhartha Gautama

10 fevereiro 2007

Norma


"Casta Diva"
Norma de Bellini por Maria Callas
Paris 1958

09 fevereiro 2007

Nova nisto

Esta é a minha terceira publicação como blogger e resolvi dar algumas satisfações aos meus possíveis leitores. — Habitualmente encontro este tipo de introdução como texto fixo ao cimo, junto do título ou ao lado, na descrição do cabeçalho. — Como não sabia muito bem o que dizer não disse, é que não conheço uma meta definida nem um estado especial para este lugar, não faço a mínima ideia para onde se encaminha.

Mas sei que este sítio é onde começo esticar os meus bracinhos à vontade, enterrando os dedos na terra alqueivada para a surribar ainda mais, e esperar onde surgem os rebentos. Experimento plantar ideias sem limites ou talas e regas especiais, retóricas e pragmatismos a gosto, e tudo o mais que "paraser" interessante.

O Skapsis crescerá como uma árvore que se vai curvando ao sabor do vento. Montanha, como eu, que se deixa desenhar pelas correntes dos rios dando-lhes a forma da sua inércia. E assim aqui exposta de maneira arroteada vou gritar, chorar, rir, cantar, declamar, sorrir, lamentar, propor, apontar, criticar, elogiar e tantas, tantas mais artimanhas.

Bem, talvez ele tenha aparecido com uma presença algo erudita para o gosto da maioria, mas este blog é mesmo assim, umas vezes mais erudito outras menos. Não se acanhem e comentem à vontade. É que ainda sou nova nisto e estou para ver o que acontece.

Conto com a vossa árdua justiça colocadora. Vamos fazer crescer em Portugal.

Beijinhos a todos.

08 fevereiro 2007

Diagrama cosmológico
























Diagrama cosmológico

Chinês, Sino-Tibetano. Dinastia Yuan. Séc XIII-XIV.
Tapeçaria de seda (kesi), 83,8 cm x 83,8 cm.
Metropolitan Museum of Art, Nova Yorque.


Do númemo da vida
é o mito que nos faz
inteira sapiência.

23-12-2002



Mitologia contemporânea













Dois Mil e Um Fins

(...) Muita coisa, que para este povo significava o Bem, representava para um outro povo escárnio e ignomínia; foi isso que eu descobri. Encontrei muita coisa chamada má aqui e adornada acolá com as honras da púrpura. (...)
(...) Em verdade, os homens deram a si próprios todo o seu Bem e Mal. Em verdade, nem o tomaram, nem o encontraram, nem ele lhes chegou como uma voz vinda do céu. (...)
(...) Em tempos, os povos penduraram por cima de si próprios uma tábua do bem. O amor que quer dominar e o amor que quer obedecer é que produziram em conjunto essas tábuas. (...)
(...) Foram sempre espíritos amorosos e produtivos que criaram o Bem e o Mal. Nos nomes de todas as virtudes, ardem o fogo do amor e o fogo da ira. (...)
(...) Na verdade, é um monstro o poder desse louvar e censurar. Dizei-me vós, irmãos, quem o dominará? Dizei-me quem colocará as correntes nos mil cachaços desse animal?
Mil fins havia até agora, pois havia mil povos. Só falta ainda a corrente em volta dos mil cachaços, falta um fim único. A humanidade ainda não tem finalidade.
Mas, então, dizei-me, meus irmãos: se falta ainda à humanidade o objectivo, não falta, pois, também... ainda ela própria? (...)

Nietzsche, Assim Falava Zaratustra, Lisboa, Relógio D'Água, 1998.

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