Que o amigo seja para vós a festa da terra
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05 julho 2010

A primeira natureza da luz


































Quando pensamos na antiguidade, nos episódios históricos que já foram, não imaginamos que seja possível retomá-los, como se pudessemos reviver o simpósio de Platão, e ouvir em primeira mão o discurso de Aristófanes. Mas, de certa forma, é isso que a ESA está a tentar fazer com o nosso céu. A "máquina fotográfica" do Planck dá-nos de volta uma resonância da primeira luz da nossa existência universal. É tão incrível quanto isso! Uma fotografia da primeira luz de todas as luzes de sempre. Não será a primeira fotografia mas é a primeira fotografia da primeira luz deste universo.
























Um mapa completo do nosso céu, que por ter sido feito nas nossas imediações, apresenta o ângulo fotográfico subjectivo da Terra, captando os gases e o pó celestial de onde se formaram todas as estrelas à cerca de 14 mil milhões de anos. Para isto ser possível os sensores do satélite tiveram de ser arrefecidos até muito próximo do zero absoluto, de modo a captarem-se variações de temperatura que são cerca de um milhão de vezes menores que um grau. Se o zero absoluto, medido em graus Kelvin é zero, 0ºK, em graus Celcius são -273,15ºC, e os sensores do aparelho trabalham a -273,05ºC. A viagem no tempo para a primeira luz faz-se praticamente no zero absoluto. E a imagem que vemos abaixo inclui relíquias de radiação da luz do Big Bang, a tal primeira luz, a pontilhado amarelo, inclui o pó celestial da nossa galáxia a azul, e a vermelho temos gases de temperaturas altas. Na imagem de cima a Via Láctea é desenhada por uma risca horizontal quase branca, de onde se vêm partir, para cima e para baixo, correntes de pó celestial frio que se estendem por milhares de anos luz.




























Este telescópio faz uma fotografia panorâmica da anisotropia esférica de todo o universo em torno de si mesmo, captando as já muito arrefecidas micro ondas da radiação cósmica de fundo do nosso universo, que, segundo a astrofísica, é o resultado actual da primeira emisão de luz do universo, o primeiro nascimento, a primeira natureza da luz, o Big Bang. É isto que espanta sem fim... uma fotografia do Big Bang de dentro para fora.


















O Planck faz um varrimento do céu por aneis que têm, cada um, cerca de 15º em largura, demorando mais ou menos seis meses a completar a imagem do céu inteiro. O tempo operacional do Planck foi calculado em 15 meses, pelo que serão feitos dois varimentos completos do céu.



E é assim que recuando no tempo enquanto se olha para a frente, pudemos retomar o primeiro de todos os discursos, e perceber como viemos aqui parar a este lugar no cosmos. Será que o Big Bang é mesmo o início de tudo? Será que tem vindo a expandir-se e assim continuará, até à escuridão, como é dito na mitologia contemporânea? Será que podemos continuar a dividir o conhecimento entre crentes, ateus e agnósticos?

25 abril 2010

Bodas de prata em cativeiro

21 janeiro 2010

Since 'It' Was
























Belém 2010


What urged me to come
and say about was the misfortune I had to endure last week in Belém.

I left the ride
near the (summer) restaurants
and set in my own way,
enjoying the rain?,

glad to go by my favourite tree
in Belém. The way to CCB.

For my surprise, as I was going forward, a memory lapse.

Yes, [some time had passed since my last visit to these flat gardens, and I forgot]
where the tree used to stand.

So strange,
never in my life this had happen
before, I must be getting old.

All I could see there were the other trees,
with ‘whom’ I never develop a friendship, and,
it seemed,

all the seagulls of the river mouth were there too.

Unusual.

Where is my tree? I thought.
— As if they were ever mine—
But suddenly I came to realize
they
was probably someone's
trees.
Yes, trees,

the trees I was happy to be passing by,
since I decided early in the morning to go
and see Bacon thinking about Ingres, was
an embrace tree of two distinct trees, as if
they could be anthropomorphized into a couple.

I kept on going
forward, intrigued, and
it wasn't till I got very close
that I understood my memory is [still in good shape.
What a horrifying image that was,]
to know about my own memory

with the death of a friend.
Well, I wouldn’t say it was death what petrified me.
Death is hurtful but it’s natural. One way or another
we all expect death.

Call it a new beginning...

Love!
What ever...

For all I know
(or knew) this tree was a monument.
Old and crumbling, but very strong
and capable of many more
friendships like the one
I was happy to enjoy.

Someone had passed and
decided it was no more and
took her stand away, leaving
just the roots for all to see.

And if death was the issue, my friend
was stripped from the new beginning.

She still exists in me, but no new friends will come
to appreciate how wonderful it could be,
that two very different trees
would grow side by side from the same ground
into a whirling twist,

dancing to the sky. Isn’t that what trees do with the wind?
Why take ‘it’ away?

22 junho 2009

Lançamento



















Meco 2009


(...) Tenho ainda debaixo do braço muitas setas agudas,
que estão dentro da aljava,
compreensíveis aos cultos; para o vulgo, é preciso
hermeneutas. Artista é aquele
que sabe muito por natureza. Os que tiveram de aprender,
quais corvos loquazes,

que grasnem em vão contra a ave divina de Zeus!
Assesta o arco para o alvo,
eia, coração! A quem atingiremos, com ânimo
de novo brando? A quem lançaremos
as setas da glória? (...)



II.ª Ode Olímpica
Píndaro, Sete Odes de Píndaro, Porto, Porto Editora, 2003.

24 março 2009

Nada, é indizível.


















Sintra 2009


Não vemos quem é mais.
Não vemos porque está
no que em nós é estar.

2002

12 junho 2008

Tataki




















Estate
Giuseppe Arcimboldo, 1573.
Óleo sobre tela, 61 x 50,8 cm.
Musée du Louvre, Paris.


Noite de Verão —
uma pancada no portão,
uma pancada na porta...
Como a esperança responde
ao bater no parapeito.

Isumi Shikibu
Luísa Freire (org./trad.), O Japão no Fiminino — Tanka, séculos IX a XI, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007.

04 abril 2008

Em si a sua cópia












(...) O simulacro é soberano quando é clandestino e penetra no interior dos corpos. (...)


Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Lisboa, Cotovia, 1990.

10 março 2008

InSignificante













Fanny och Alexander
Ingmar Bergman, 1982.


(…) Tudo pode acontecer;
tudo é possível e provável.
O tempo e o espaço não existem.
Num insignificante tecido da realidade,
a imaginação desenha e entretece novos padrões (…)


August Strindberg, O Sonho, 1901.

01 janeiro 2008

Vou vê-las est'ano




















Dom-Fafe e Cerejeira-do-Japão
Katsushika Hokusai, 1834.
Da série Flores Pequenas.
Xilogravura a cores, 25,1 x 18,2 cm.
Honolulu Academy of Arts, Honolulu.


Embora despontem
já as flores de cerejeira,
vou vê-las este ano
com perfume de ameixeira
enchendo o meu coração.



Isumi Shikibu
Tanka, org e trad. Luísa Freire, Lisboa, Assíro & Alvim, 2007.

29 novembro 2007

Sinto-me-te
























Anthomedusae
Ernst H.P. Haeckel, de 1899 a 1904.
Incluído na série Formas da Natureza.
Impressão litográfica de Adolf Giltsch.


Distante, ébria de sentidos
após falarmos sem dizer.
Sinto-me-te: clara luminosa.

16-02-1999

Aproximar-te-ás
























Siphonophorae
Ernst H.P. Haeckel, de 1899 a 1904.
Incluído na série Formas da Natureza.
Impressão litográfica de Adolf Giltsch.

Do teu simplifica o desenho
e aproximar-te-ás do centro d’energia.
Sem corpo tornas-te nela.

04-02-1999

12 novembro 2007

O que a faz silêncio
























L'Origine del Mondo
Constantin Brancusi, 1920.
Metal e pedra, 76,2 x 50,8 x 50,8.
Dallas Museum of Art.

Bei Brancusi, Zu Zweit

Wenn dieser Steine einer
verlauten ließe,
was ihn verschweigt:
hier, nahebei,
am Humpelstock dieses Alten,
tät es sich auf, als Wunde,
in die du zu tauchen hättst,
einsam,
fern meinem Schrei, dem schon mit-
behauenen, wei
ßen.


Com Brancusi, a Dois

Se destas pedras uma
anunciasse
o que a faz silêncio:
aqui, muito perto,
na bengala deste velho,
isso se abriria, como ferida
em que terias de mergulhar,
solitário,
longe do meu grito, ele também já
talhado pelo cinzel, branco.


Paul Celan, Sete Rosas Mais Tarde, trad. J.Barrento, Lisboa, Cotovia, 1996.

Do céu, na montanha


















Atlântico 2004


Abglanzbeladen, bei den
Himmelskäfern,
im Berg.

Den Tod,
den du mir schuldig bliebst, ich
trag ihn
aus.

Carregado de brilhos, entre
os escaravelhos do céu,
na montanha.

A morte
que me ficaste a dever, eu
carrego-a
até ao fim.


Paul Celan, Sete Rosas Mais Tarde, trad. J.Barrento, Lisboa, Cotovia, 1996.

08 setembro 2007

Cravada na pedra

















2006

Perdida dos Homens
escorre, pelos dedos urdidos
nas unhas, cravada na pedra.

Raios de luz casada
nas frágeis gavetas fractais.
Sonhos cupidos

d’era p’los braços
as raízes das pernas.

Árvore ao vento que passa
suspensa do tamanho
sem fundo.

10-06-1998

07 setembro 2007

Bergauf



















Aveiro 2006

Não vemos nada,
só nos chega a luz.

Ver algo
será certamente
iluminá-lo.

12-03-2004

21 agosto 2007

Haverá mais
























Agosto 2007

Es wird noch ein Aug sein,
ein fremdes, neben
dem unsern: stumm
unter steinernem Lid.

Kommt, bohrt euren Stollen!

Es wird eine Wimper sein,
einwärts gekehrt im Gestein,
von Ungeweintem verstählt,
die feinste der Spindeln.

Vor euch tut sie das Werk,
als gäb es, weil Stein ist, noch Brüder.


Haverá mais um olho,
estranho, junto ao
nosso: mudo
sob a pálpebra de pedra.

Vinde, cavai as vossas galerias!

Haverá uma pestana,
virada para dentro, na rocha,
temperada com lágrimas não choradas,
o mais fino dos fusos.

À vossa frente faz ela o trabalho,
como se houvesse, porque há pedra, ainda irmãos.


Esperança
Paul Celan, Setes Rosas Mais Tarde, trad. Yvette K. Centeno, Lisboa, Cotovia, 2006.

13 agosto 2007

Uma asa nunca esquece

















Uma asa nunca esquece
agita-se
se lhe toca o vento.


Priscila Machado, 14 de Julho de 2005.

12 agosto 2007

Ombro a ombro




















Lisboa 2005

Du darfst mich getrost
mit Schnee bewirten:
sooft ich Schulter an Schulter
mit dem Maulbeerbaum schritt durch den Sommer,
schrie sein jüngstes
Blatt.

Podes confiante
acolher-me com neve:
sempre que eu ombro a ombro
com a amoreira atravessava o verão,
gritava a sua mais jovem
folha.

Paul Celan, Setes Rosas Mais Tarde, trad. Yvette K. Centeno, Lisboa, Cotovia, 2006

Mais altos
















Sintra 1996


O verde dos bambus mais altos é azul
ou então é o céu que pousa nos seus ramos.

Eugénio de Andrade, Antologia Breve, Lisboa, Fundação Eugénio de Andrade, 2005.

10 agosto 2007

Folha a folha

















Arrábida 2005

Der Stein.
Der Stein in der Luft, dem ich folgte.
Dein Aug, so blind wie der Stein.

Wir waren
Hände,
wir schöpften die Finsternis leer, wir fanden
das Wort, das den Sommer heraufkam:
Blume.

Blume — eins Blindenwort.
Dein Aug und mein Aug:
sie sorgen
für Wasser.

Wachstum.
Herzwand um Herzwand
blättert hinzu.

Ein Wort noch, wie dies, und die Hämmer
schwingen im Freien.

A pedra.
A pedra no ar, que segui.
O teu olhar, tão cego como a pedra.

Nós fomos
mãos,
esvaziámos a treva, encontrámos
a palavra, que subia do verão:
flor.

Flor — uma palavra de cegos.
Os teus olhos e os meus olhos:
vão em busca
de água.

Crescimento.
Folha a folha acrescenta
as paredes do coração.

Uma palavra ainda, como esta, e os martelos
rodopiam ao ar livre.


Flor
Paul Celan, Setes Rosas Mais Tarde, trad. Yvette K. Centeno, Lisboa, Cotovia, 2006.

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