Que o amigo seja para vós a festa da terra

22 junho 2009

Lançamento



















Meco 2009


(...) Tenho ainda debaixo do braço muitas setas agudas,
que estão dentro da aljava,
compreensíveis aos cultos; para o vulgo, é preciso
hermeneutas. Artista é aquele
que sabe muito por natureza. Os que tiveram de aprender,
quais corvos loquazes,

que grasnem em vão contra a ave divina de Zeus!
Assesta o arco para o alvo,
eia, coração! A quem atingiremos, com ânimo
de novo brando? A quem lançaremos
as setas da glória? (...)



II.ª Ode Olímpica
Píndaro, Sete Odes de Píndaro, Porto, Porto Editora, 2003.

18 junho 2009

Istigkeit
























Meco 2009


When we feel ourselves to be sole heirs of the universe, when "the sea flows in our veins... and the stars are our jewels," when all things are perceived as infinite and holy, what motive can we have for covetousness or self-assertion, for the pursuit of power or the drearier forms of pleasure?

Aldous Huxley, The Doors of Perception, 1954.

03 junho 2009

Cair no sono
























Lisboa 2009


Estava a cair no sono, o tremor febril abrandava; de súbito pareceu-lhe sentir qualquer coisa, debaixo do cobertor, a correr-lhe pelo braço, pela perna. Estremeceu: «Raios, um rato? — pensou. — Foi porque deixei a vitela em cima da mesa...» Não lhe apetecia descobrir-se, levantar-se, apanhar frio, mas logo lhe voltou a roçar pela perna algo desagradável; arrancou o cobertor de cima dele e acendeu a vela. Tremendo de frio e febre, dobrou-se para examinar a cama — nada; sacudiu o cobertor, saltou de lá um rato para o lençol. Quis apanhá-lo: o rato não fugia da cama, só ziguezagueava para todos os lados, deslizava, esgueirava-se-lhe por entre os dedos e, subitamente, enfiou-se debaixo da almofada; atirou a almofada para o chão mas, no mesmo instante, sentiu que o rato já lhe entrara por debaixo da camisa, lhe corria pelo corpo, já passara para as costas... Estremeceu nervosamente e acordou. O quarto estava escuro, e ele na cama, agasalhado no cobertor como antes; por trás da janela uivava o vento. «Que merda!» — pensou aborrecido.

Fiódor Dostoiévski, Crime e Castigo, Lisboa, Presença, 2003.

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