Religio
Giorgio Agamben, Profanazioni, Roma, Nottetempo, 2005.
O termo religio não deriva, segundo uma etimologia tanto insipida quanto inexacta, de religare (aquilo que liga e une o humano ao divino), mas de relegere, que indica a atitude de escrúpulo e de atenção na qual devem prontificar-se as relações com o deus, a hesitação inquieta (o “reler”) defronte das formas — e das formulas — a observar para respeitar a separação entre o sagrado e o profano. Religio não é o que une homem e deus, mas o que vela a mantê-los distintos. À religião não se opõe, por isto, a incredulidade e a indiferença em respeito ao divino, mas a “negligência”, isto é, uma atitude livre e “distraida” — isto é, liberto da religio das normas — de fronte às coisas e aos seus usos, às formas da separação e aos seus significados. Profanar significa: abrir a possibilidade de uma forma especial de negligência, que ignora a separação ou, melhor, dela faz um uso particular.
Tradução nossa.
0 <:
Enviar um comentário