A primeira natureza da luz
Quando pensamos na antiguidade, nos episódios históricos que já foram, não imaginamos que seja possível retomá-los, como se pudessemos reviver o simpósio de Platão, e ouvir em primeira mão o discurso de Aristófanes. Mas, de certa forma, é isso que a ESA está a tentar fazer com o nosso céu. A "máquina fotográfica" do Planck dá-nos de volta uma resonância da primeira luz da nossa existência universal. É tão incrível quanto isso! Uma fotografia da primeira luz de todas as luzes de sempre. Não será a primeira fotografia mas é a primeira fotografia da primeira luz deste universo.
Um mapa completo do nosso céu, que por ter sido feito nas nossas imediações, apresenta o ângulo fotográfico subjectivo da Terra, captando os gases e o pó celestial de onde se formaram todas as estrelas à cerca de 14 mil milhões de anos. Para isto ser possível os sensores do satélite tiveram de ser arrefecidos até muito próximo do zero absoluto, de modo a captarem-se variações de temperatura que são cerca de um milhão de vezes menores que um grau. Se o zero absoluto, medido em graus Kelvin é zero, 0ºK, em graus Celcius são -273,15ºC, e os sensores do aparelho trabalham a -273,05ºC. A viagem no tempo para a primeira luz faz-se praticamente no zero absoluto. E a imagem que vemos abaixo inclui relíquias de radiação da luz do Big Bang, a tal primeira luz, a pontilhado amarelo, inclui o pó celestial da nossa galáxia a azul, e a vermelho temos gases de temperaturas altas. Na imagem de cima a Via Láctea é desenhada por uma risca horizontal quase branca, de onde se vêm partir, para cima e para baixo, correntes de pó celestial frio que se estendem por milhares de anos luz.
Este telescópio faz uma fotografia panorâmica da anisotropia esférica de todo o universo em torno de si mesmo, captando as já muito arrefecidas micro ondas da radiação cósmica de fundo do nosso universo, que, segundo a astrofísica, é o resultado actual da primeira emisão de luz do universo, o primeiro nascimento, a primeira natureza da luz, o Big Bang. É isto que espanta sem fim... uma fotografia do Big Bang de dentro para fora.
O Planck faz um varrimento do céu por aneis que têm, cada um, cerca de 15º em largura, demorando mais ou menos seis meses a completar a imagem do céu inteiro. O tempo operacional do Planck foi calculado em 15 meses, pelo que serão feitos dois varimentos completos do céu.
E é assim que recuando no tempo enquanto se olha para a frente, pudemos retomar o primeiro de todos os discursos, e perceber como viemos aqui parar a este lugar no cosmos. Será que o Big Bang é mesmo o início de tudo? Será que tem vindo a expandir-se e assim continuará, até à escuridão, como é dito na mitologia contemporânea? Será que podemos continuar a dividir o conhecimento entre crentes, ateus e agnósticos?