O que é a memória?
Folies d'Espagne de Marin Marais por Jordi Savall. Tous les Matins du Monde
de Alain Corneau, 1991. Guillaume Depardieu como Marain Marais.
The road ahead will be long. Our climb will be steep. We may not get there in one year or even one term, but America, I have never been more hopeful than I am tonight that we will get there...
A estrada pela frente será longa. A nossa subida será vertical. Podemos não chegar lá num ano ou mesmo num mandato, mas América, eu nunca tive mais esperança que nesta noite, de que vamos lá chegar...
Barack Obama in Reuters Wed Nov 5, 2008 5:21am
Lisboa 2008
(...) But if I should describe the Kitchen great, the prodigious Pots and kettles, the joints of Meat turning in the Spits, with many other Particulars, perhaps I should be hardly believed; at least a severe Critic would be apt to think I enlarged a little, as Travelers are often suspected to do. (...)
Jonathan Smith, Gulliver's Travels, London, Penguin, 2003.
Comentários SCSF 0 <
Categorias * §, arte, filosofia, fotografia
Aos fieis leitores deste blogue agradecemos a continuada atenção às postas que se têm tornado cada vez mais escassas. Neste momento o Skapsis está a publicar uma vez por mês, tal como passou a fazer no ano corrente, e assim nos parece que continuará salvo raras excepções.
Desta vez é tempo de vir anunciar o atelier de design que esteve, desde o início em silêncio, por detrás das opções estilísticas deste layout. Pelo que agradecemos à SD spintadesign o apoio que nos tem dado. Obrigada pela vossa atençã0 e até à próxima posta.
A tentativa de se estabelecer uma definição do que é a arte, não é tarefa impossível, mas, sem querer parecer demasiado derrotista ou negativa, só posso considerá-la fútil. E, para quem pretende seguir com esse empreendimento (sem diminuir o valor dos tantos trabalhos já publicados) será necessário, antes de mais, perceber qual é o grupo sociocultural, assim como político e profissional, de quem frui. Quem analisa e qual é o objectivo de quem se lança para esta tarefa eventualmente interminável?
Mas o perfil de quem aprecia um objecto declarado arte e o objectivo de quem o declara, ou analisa a validade dessa declaração (muitas vezes a mesma pessoa, e o que a produz acaba por não ter voto real na matéria), não é o que de todo em todo revela fútil a tentativa desta definição. Para além do fruidor como elemento fundamental, de modo a que se perceba a efectividade de uma definição do que é arte, será também fundamental desvelar o paradigma que está por detrás, ou na base, do conhecimento — seja ele estésico, mnémico, empírico ou técnico, como poderia dizer Aristóteles na sua pirâmide invertida — daquilo que se pode considerar um objecto de arte e a sua compreensão enquanto tal. De que época se trata e qual é a mentalidade civilizacional que está a tratar?
Depois de saber quem e porque o faz, quando e a que referências recorre para compreender quais referências. Só podemos chegar à inevitável conclusão de que esta tarefa, que é muito válida enquanto tentativa, se mostra fútil pelo que tem de relativa, sem chegar de facto a algum predicado definitório. Isto poderia dizer-se de qualquer definição cujos elementos que mostro no início deste parágrafo não estejam suficientemente estabelecidos.
Com isto quero dizer que tanto a definição mimética, como a formalista, a expressionista ou a de indefinível, seja ela qual for, estão todas certíssimas, pelo simples facto de que cumprem o objectivo compreensivo a que se propõem em cada uma das épocas em que surgiram. Digo mais, todas essas definições, tomando o ponto de vista certo, estão ainda hoje válidas, e, de forma geral, se é que se arrogam a uma definição geral, estão e estarão sempre erradas. Como diz o próprio título da posta, não sei se com todo o propósito, trata-se de “O enigma da arte”. Sendo este enigma um dos mistérios — senão aquele mesmo — que mais se deve preservar. E como qualquer outro mistério, não é para ser conhecido se não se quer que perca a sua validade enquanto tal. O enigma está posto para se abrir, mas o mistério age como a sua forma última, o aporético. O enigma da arte é, em última circunstância, aporético. Não passa. Não que não se possa definir mas a sua abertura não se dá, ou vai-se dando, bolsa a bolsa, círculo a círculo, como o tempo numa comédia interminável.
E dizer o que é a arte hoje, ainda se torna mais ridículo, pois dizendo o que ela é hoje, está a falar-se do que ela já não é. Escusa-se uma tentativa de análise lógica por reductio ad absurdum. E aqui não posso concordar mais com o autor desta posta, quando diz que “Todos parecemos saber perfeitamente bem o que é a arte, mas mal tentamos explicar o que ela realmente é, enredamo-nos em contradições e implausibilidades.”. Está visivelmente recordado do que disse Santo Agostinho acerca do tempo. Pois, não é de todo errado comparar a compreensão que se tem do tempo com a que se tem da arte. Compreensão que evolui à medida que mais fundo nela se pensa, e se vão descobrindo os meandros das nossas possibilidades compreensivas.
Sendo assim, qualquer obra que se proponha dar uma definição de arte, embora possa ter imenso interesse e forneça riquíssima cultura geral, não cumpre outro objectivo que não o de um exercício de estilo numa análise tópica, ou mesmo epidérmica, tal como esta crítica que acaba de ser escrita.
Estate
Giuseppe Arcimboldo, 1573.
Óleo sobre tela, 61 x 50,8 cm.
Musée du Louvre, Paris.
Noite de Verão —
uma pancada no portão,
uma pancada na porta...
Como a esperança responde
ao bater no parapeito.
Isumi Shikibu
Luísa Freire (org./trad.), O Japão no Fiminino — Tanka, séculos IX a XI, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007.
The Nativity Story
Catherine Hardwicke 2006
Na origem do simulacro está a imagem mental. Esse ser caprichoso e impalpável reflecte o mundo e, ao mesmo tempo, sujeita-o à fúria combinatória, usando-lhe as formas numa proliferação interminável. Gera uma força prodigiosa, o terror perante aquilo que se vê no invisível. Tem todas as características do arbitrário e do que nasce nas trevas, do indistinto, como outrora talvez tenha nascido o mundo. Mas, desta vez, o caos é a vasta tela tenebrosa atrás dos nossos olhos, sob a qual se desenha a dissipação fosfénica. Aquela formação das imagens repete-se a cada instante, em cada indivíduo. Mas a sua particularidade não reside apenas nisso. Quando o simulacro se apodera da mente, quando começa a agregar-se a outras figuras afins ou opostas, a pouco e pouco ocupa o espaço da mente numa concatenação cada vez mais minuciosa. Aquilo que se tinha apresentado como a própria maravilha da aparição, desligada de tudo, associa-se agora, de simulacro em simulacro, a tudo.
Numa extremidade da imagem mental existe a estupefacção pela forma, pela sua existência auto-suficiente e soberana. Na outra extremidade, existe a estupefacção perante a cadeia dos laços que reproduzem na mente a fatalidade da matéria. É difícil ver esses dois extremos que sobressaem no leque do simulacro, e é insuportável vê-los simultaneamente. Para os gregos, a figura dessa visão foi Helena, a beleza encerrada no ovo da fatalidade.
Transformação de Moebius Revelada
Douglas N. Arnold & Jonathan Rogness, 2007.
University of Minnesota.
(…) O verdadeiro não se define nem por uma conformidade ou uma forma comum, nem por uma correspondência entre as duas formas. Há disjunção entre falar e ver, entre o visível e o enunciável: “aquilo que se vê não se aloja nunca naquilo que se diz”, e reciprocamente. A conjunção é impossível a um duplo título: o enunciado tem o seu próprio objecto correlativo, e não é uma proposição que designaria um estado de coisas ou um objecto visível, como o desejaria a lógica; mas o visível também não é um sentido mudo, um significado de potência que se actualizaria na linguagem, como o desejaria a fenomenologia. (…)
Eres lo que Lees ...(?)
Guillermo Vargas "o bacoco", 2007.
Cão faminto deixado a morrer à fome.
Morto na Galeria Códice em Agosto de 2007.
Le Pentadactyle
Pierre Joseph Bonnaterre, 1788.
Gravura em metal de Benard Direxit.
Tablau Encyclopédique et Méthodique.
Comentários Sara 0 <
Categorias * arqueologia, arte, ciência, desenho, fauna, gravura, ilustração
Comentários Sara 2 <
Roberto Calasso, As Núpcias de Cadmo e Harmonia, Lisboa, Cotovia, 1990.
Vitellaria Paradoxa no Mali
© CossalterCirad
Sementes deVitellaria Paradoxa
Wikipedia
Corpore sano in mens sana.
"Mens sana in corpore sano." Juvenal, Satire X.
Dom-Fafe e Cerejeira-do-Japão
Katsushika Hokusai, 1834.
Da série Flores Pequenas.
Xilogravura a cores, 25,1 x 18,2 cm.
Honolulu Academy of Arts, Honolulu.
Embora despontem
já as flores de cerejeira,
vou vê-las este ano
com perfume de ameixeira
enchendo o meu coração.
Isumi Shikibu
Tanka, org e trad. Luísa Freire, Lisboa, Assíro & Alvim, 2007.