Que o amigo seja para vós a festa da terra

29 novembro 2007

Sinto-me-te
























Anthomedusae
Ernst H.P. Haeckel, de 1899 a 1904.
Incluído na série Formas da Natureza.
Impressão litográfica de Adolf Giltsch.


Distante, ébria de sentidos
após falarmos sem dizer.
Sinto-me-te: clara luminosa.

16-02-1999

Aproximar-te-ás
























Siphonophorae
Ernst H.P. Haeckel, de 1899 a 1904.
Incluído na série Formas da Natureza.
Impressão litográfica de Adolf Giltsch.

Do teu simplifica o desenho
e aproximar-te-ás do centro d’energia.
Sem corpo tornas-te nela.

04-02-1999

28 novembro 2007

Regularidade enunciativa
























1597
Janne Kittänen, 2007.
Poliamida aglomerada a laser,
16 x 50 cm.
Candeeiro de série da Fredom of Creation.


(…) Um enunciado representa sempre uma emissão de singularidades, de pontos singulares que se distribuem num espaço correspondente. (…) Por maioria de razão, num espaço considerado pouco importa que uma emissão se faça pela primeira vez ou seja antes uma retoma, uma reprodução. O que conta é a regularidade do enunciado: não uma regularidade média, mas uma curva. Com efeito, o enunciado não se confunde com a emissão de singularidades que ele pressupõe, mas com a configuração da curva que passa na vizinhança daquelas e, mais geralmente, com as regras do campo onde elas se distribuem e se reproduzem. (…)


Giles Deleuze, Foucault, Lisboa, Vega, 1998.

12 novembro 2007

O que a faz silêncio
























L'Origine del Mondo
Constantin Brancusi, 1920.
Metal e pedra, 76,2 x 50,8 x 50,8.
Dallas Museum of Art.

Bei Brancusi, Zu Zweit

Wenn dieser Steine einer
verlauten ließe,
was ihn verschweigt:
hier, nahebei,
am Humpelstock dieses Alten,
tät es sich auf, als Wunde,
in die du zu tauchen hättst,
einsam,
fern meinem Schrei, dem schon mit-
behauenen, wei
ßen.


Com Brancusi, a Dois

Se destas pedras uma
anunciasse
o que a faz silêncio:
aqui, muito perto,
na bengala deste velho,
isso se abriria, como ferida
em que terias de mergulhar,
solitário,
longe do meu grito, ele também já
talhado pelo cinzel, branco.


Paul Celan, Sete Rosas Mais Tarde, trad. J.Barrento, Lisboa, Cotovia, 1996.

Do céu, na montanha


















Atlântico 2004


Abglanzbeladen, bei den
Himmelskäfern,
im Berg.

Den Tod,
den du mir schuldig bliebst, ich
trag ihn
aus.

Carregado de brilhos, entre
os escaravelhos do céu,
na montanha.

A morte
que me ficaste a dever, eu
carrego-a
até ao fim.


Paul Celan, Sete Rosas Mais Tarde, trad. J.Barrento, Lisboa, Cotovia, 1996.

09 novembro 2007

Inesperado desempenho










Os leitores que se tornaram assíduos do Skapsis sabem que aqui não é comum anunciar espectáculos por vir ou em cena, mas desta vez teve de abrir-se uma excepção. Ontem tive a oportunidade de assistir ao inesperado desempenho de um excelente artista Japonês, integrado no festival Temps d'Images. Hiroaki Umeda volta ao palco hoje pelas 21h30 na Culturgest.

Este coreógrafo começou por estudar fotografia para depois se voltar para a dança. «A dança é a tempo real.» Disse ontem aos espectadores que o foram ouvir depois, como justificação para esta mudança de disciplinas. Contudo, não ouve propriamente uma mudança de disciplinas mas uma modificação na abrangência das disciplinas. Hiroaki estudou fotografia (desenho da luz) e dança (desenho do corpo) por pouco tempo, e cedo se tornou autodidata — também nos confidenciou. Mas nestas duas peças em exibição, While Going to a Condition e Finore, o artista também concebeu a banda sonora. O resultado é de uma impressionante fluidez com altíssima qualidade. Disse-nos ainda que o desenho da luz e do som
(hipnótico e industrial) não é menos importante que o do seu corpo, um objecto em movimento, insignificante como qualquer movimento, completamente integrado no conjunto.

Corpo, luz e som, numa coreografia de sincronias rítmicas complexas que dificilmente podem ser descritas sem cair nos tecnicismos de uma linguagem incompreensível. Embora se possa fazer alguma descrição da luz e do som, a coreografia corporal que Hiroaki dança tem de ser experimentada ao vivo, razão pela qual não se apresenta aqui mais que uma imagem da primeira peça.

A não perder!


Fotografia de F.Villemin

07 novembro 2007

É um modo intensivo
























Shirin
Bridget Reiley, 1984.
Óleo sobre tela, 171,5 x 140,8 cm.
Galeria Nicole Schlégl, 2007.


(...) Um processo de subjectivação, isto é, uma produção de modos de existência, não se pode confundir com um sujeito, a menos que este seja destituído de toda a interioridade, de toda a identidade. A subjectivação nem sequer tem a ver com a «pessoa»: é uma individuação, particular ou colectiva, que caracteriza um acontecimento (uma hora do dia, um rio, uma aragem, uma vida...). É um modo intensivo e não um sujeito pessoal. É uma dimensão específica sem a qual não se poderia ir além do saber nem resistir ao poder. (...)

A Vida Como Obra de Arte
Gilles Deleuze, O Mistério de Ariana, Lisboa, Vega, 1996.

Como o vento que nos bate nas costas














(...) A lógica de um pensamento não é um sistema racional em equilíbrio. (...) A lógica de um pensamento é como o vento que nos bate nas costas, uma série de rajadas e choques. Cuidávamos estar perto do porto e en-contramo-nos lançados em pleno mar alto (...). (...)

A Vida Como Obra de Arte
Gilles Deleuze, O Mistério de Ariana, Lisboa, Vega, 1996.



Fotografia das galáxias NGC 2207 e IC 2163 por HST, NASA.

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