Que o amigo seja para vós a festa da terra

05 dezembro 2007

No interstício ou na disjunção
























Primitive Blaze
Bridget Riley, 1963-64.
Emulsão sobre placa, 94,5 x 94,5.
Sotheby's, Londres.


(…) — “que significa pensar? A que se chama pensar?” — (…)

(…) Pensar é experimentar, é problematizar. O saber, o poder e o si são a tripla raiz de uma problematização do pensamento. E, para começar, naquilo que decorre do saber enquanto problema, pensar é ver e é falar, mas pensar faz-se no entre-dois, no interstício ou na disjunção do ver e do falar. É, de cada vez, inventar o entrelaçamento, desfechar uma flecha de um contra o alvo do outro, fazer refulgir um relâmpago de luz nas palavras, e fazer ouvir um grito nas coisas visíveis. Pensar é fazer com que o ver alcance o seu limite próprio, e o falar o seu, de tal sorte que os dois sejam o limite comum que os relaciona um com o outro, separando-os.
Em seguida, em função do poder enquanto problema, pensar é emitir singularidades, é lançar os dados. Aquilo que o lance de dados exprime, é que pensar provém sempre do de-fora (desse de-fora que já se precipitava no interstício ou constituía o limite comum). Pensar não é nem inato nem adquirido. Não é o exercício inato de uma faculdade, mas não é também um learning que se constitui no mundo exterior. (…) a genitalidade do pensamento enquanto tal, um pensamento que vem de um de-fora mais longínquo que todo e qualquer mundo exterior, e portanto mais próximo que todo e qualquer mundo interior. Será necessário chamar Acaso a esse de-fora? (...)


Giles Deleuze, Foucault, Lisboa, Vega, 1998.

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