Que o amigo seja para vós a festa da terra

23 abril 2007

Hermeneias 9









Este diagrama contém pontos de vista sobre enunciados do passado para o futuro, enunciados futuros para o passado e enunciados do passado para o futuro que se tornaram necessários pela perspectiva posterior. O ponto que tem em vista o futuro não se livra nunca das alternativas possíveis à variação do que a sua proposição antecipa, este ponto de vista é sempre o da potência. Enquanto do passado para o futuro só se pode ter a vista, não se tem, ela é potencial no sentido em que não actualizada confere a si própria todas as possibilidades viáveis ao que pretende actualizar. Esta contingência da potência que ainda não se actualizou é, em parte, necessidade hipotética, pode ser uma hipótese imaginada, mas em absoluto é absolutamente contingente. Não há como garantir qual será a actualização. O futuro, inacessível acto ainda potente, virá a ser presente e como tal o acto que se previu ou uma das alternativas, deixando a potência extinta. Termina aí a liberdade do ser que se propunha. Agora, no ponto de vista que outrora foi futuro, o ponto de vista do presente que olha para aquele que antecipava, o que era então contingente, potente, passa a ser necessário, acede à actualidade. Uma vez em acto a primeira liberdade potente não está mais disponível e o passado, que fora livre, não é mais o passado que foi. O ponto de vista que observa o passado, que o tem em memória, já não o reconhece como ele é. Dizendo que o passado é extraímo-nos ficticiamente da relação temporal para adquirir a sua realidade, o que o futuro era para ser já lá estava inscrito e, sendo assim, o passado não só é actual no ponto de vista do futuro como o é do ponto de vista do passado que se tem como correctamente antecipador do futuro. O passado, como tem uma perspectiva disjuntiva sobre o futuro é tanto em potência como é em acto, mas esta actualização, para nós que ainda lá estivermos, só pode ser no âmbito da sua própria potência. No entanto, é a consciência madura deste em acto livre, uma segunda liberdade retro activada, que nos dá a via para as possibilidades ainda não realizadas e nos mantêm em tensão para aquilo que somos.


Estudo do capítulo nono do Peri Hermeneias de Aristóteles, 2007.

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